DIA 06 - TERRA FIRME

Ai meu santo golfinho, diário! Tanta coisa aconteceu!

Já faz um tempo que eu não escrevo, então vou contar exatamente o que aconteceu.
Naquele dia eu fui até a bruxa, e ela já sabia exatamente o que eu precisava. Ela disse que era loucura, que as pernas só me trariam sofrimento e infelicidade. Mas eu insisti. Ela me fez uma poção, mas a magia veio com um preço muito caro.

Primeiro, a bruxa me explicou que, depois de tomar a poção, eu não poderia voltar à minha forma normal. Depois, ela ainda disse que, se meu amado se casasse com outra, eu não conseguiria minha alma imortal e me tornaria espuma no dia seguinte ao casamento.

Mas eu fui descobrir que isso não era tudo.

O preço para a magia era minha voz. Minha bela voz. E, para entregá-la à bruxa, minha língua seria arrancada. Quando ouvi isso, meu coração foi partido em milhares de pedacinhos. Eu nunca mais poderia falar ou cantar. Quase desisti, mas então lembrei-me do príncipe e da alma imortal que eu estava prestes a conseguir. Decidida, peguei o frasco. Um trovão sacudiu as águas e eu senti um aperto na garganta, quase como se alguém me enforcasse. Logo em seguida, senti a carne da minha língua sendo rasgada, em uma dor indescritivelmente excruciante. Cada partícula do meu ser gritava em agonia. Em questão de instantes, minha voz sumira. Estava feito. Ainda abalada pelo sofrimento, cambaleei para fora da caverna, nem lembro se agradeci.

Fui até o palácio, mas não tive coragem de entrar. Eu não conseguiria falar com meu pai, minhas irmãs, minha avó... Ah, minha avó! Como eu sinto falta dela! Apenas mandei um beijo em direção ao castelo e nadei até a praia.

Em um surto de coragem, bebi a poção e senti como se uma espada me atravessasse. A dor foi tanta que eu desmaiei. Acordei algum tempo depois, com o príncipe me observando. Ao me ver consciente, ele se apressou em me ajudar. Tentei falar algo, mas as palavras não saíram. Ele me olhou com doçura e me conduziu ao castelo. A cada passo que eu dava, era como se eu pisasse em milhares de lâminas, outro efeito colateral do feitiço.

Mas nada importava mais. Eu estava com ele. Tudo era suportável.


E então chegamos ao presente. Estou sentada em minha cama, pois ficar em pé é um sacrifício extremo. Todas as noites eu danço para o príncipe. A dor reflete em todo o meu corpo, meus olhos se enchem de lágrimas. Mas eu continuo. Tudo por ele.

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