DIA FINAL - ESPUMA

A sereia fechou o diário e suspirou.

Tomando coragem, levantou-se, sentindo as lâminas sob seus passos.

Fechando os olhos, deixou-se cair no mar, confundindo-se com as ondas e sentindo seu corpo se esvair em meio à água salgada.

Mas algo estava estranho. Era para a sereia se tornar espuma, passar a fazer parte do mar. Mas isso não aconteceu. Flutuando entre as ondas, a jovem viu pequenos pontinhos luminosos, as chamadas filhas do ar. Com suas vozes delicadas, os seres mágicos confortaram a princesa, dizendo que ela teria a chance de ter uma alma imortal caso virasse, também, uma filha do ar.

Ansiosa pelo desejo de viver para sempre e, um dia, encontrar seu amado no céu, ela aceitou. Contudo, para isso, ela deveria servir penitência de trezentos como filha do ar, avisaram as pequenas criaturas. Vendo que a alternativa seria uma morte lenta e um tanto desconfortável, a princesa consentiu, com o coração apertado.

Até hoje, a pequena sereia vaga pela terra, aguardando ansiosamente o dia em que poderá, finalmente, encontrar a paz. O que ela não havia sido avisada é que o tempo de sua sentença não dependia apenas dela. A cada vez que as filhas do vento entram no lar de uma criança e ela chora, a princesa do mar fica um dia a mais presa à terra, longe da vida eterna com seu príncipe. Contudo, a cada criança boa, digna do amor dos pais, que a sereia encontra, um dia é retirado de sua provação.

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